Foto: https://sig.cefetmg.br/
JOÃO BATISTA SANTIAGO SOBRINHO
( BRASIL - MINAS GERAIS )
João Batista Santiago Sobrinho é escritor, poeta, ecologista, músico e artista plástico, é professor de Língua Portuguesa, Literatura e Cultura do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). É membro do quadro permanente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Estudos de Linguagens da mesma instituição. Possui doutorado em Literatura Brasileira (2007) e mestrado em Estudos Literários (2003), ambos realizados na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, Teoria da Literatura e Filosofia. Participa do grupo de pesquisa Literatécnica: Estudos sobre Literatura, Outras Artes e a Técnica. Busca, desde o doutorado, articulações possíveis entre prosa, poesia, cinema, corpo e filosofia da técnica, notadamente por via das obras de João Guimarães Rosa, Nietzsche, Deleuze & Guattari. Tem interesse sobremodo, pelas questões contemporâneas experimentadas sob um viés não metafísico, isto é, uma perspectiva sem mistificações, uma perspectiva da diferença e da imanência.
|
BOCA NA PALAVRA vias do canto. Organizadores: Mário Alex Rosa e Wagner Moreira. Belo Horizonte, MG: Impressões de Minas, 2019. 95 p. ISBN 978-S85-63912-66-3 96 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda
POIESIS
Abrir um livro
requer demora,
o antigo gesto:
a mão pousa sobre plancto surdo da palavra,
aceito o silêncio,
cumpra-se caminha a metro.
não touch screen
mas a singularidade irrevelável
onda que adentro dobra o silêncio,
no ir e vir que ao em torno é sempre mar,
espera, porque porto for
ou as mãos trazem de seus mergulhos ao vento
bateiam tantas sobre o branco
tempestades de nada.
Mas o pensar não cessa
chumba uma incompletude n´outra
de tudo quanto o chama
tudo quanto dispersa...
SOBRE O TEMPO
A vista cansada,
consequência do século
velociraptor que a trouxe.
A vontade calcinada,
estilhaços do que poderia ter sido,
encontra com outras mil formas vaporosas.
Entre elas imagino a que por seu vago tombar
lembra um ombro.
Mas quando dela aproximo:
a saudade é, pois, o apanhado geral,
o espectral mastodonte, o corpo
essa flor alenta entre os escombros...
como um leitor de livros
assombra-se para ofuscar a noite.
BANDEIRA
Por causa de um amor,
um amor de momento,
perdi a cabeça
esqueci de onde vim.
Saí pelo mundo adentro.
Transportei palavras
na dobra da trouxa
redigi aos garranchos um novel de mundos:
Achei que esse era triste demais
mais que um coração parado
mediante a vida que transcorre.
Em versos indecorosos
Lancei-os à página.
Solvidos na escritura
a alfândega da lira
a música é uma lei.
Porém, o corpo transige
por hábito, por causa idônea, desejo, pândega..
por último, para não ficar só nesse mundo
inventei a Macedônia.
Vou-me embora.
ONDE
Onde viver não doesse,
a vida seria impossível.
Que seria então a vida
onde ferida não deitasse
não latejasse a noite
rumo à manhã seguinte
de duvidosa existência.
Quem são pudesse
sem fome de inventar
o lugar nobremente
em que apenas se desliza
a cidadezinha qualquer.
Onde se pudesse apenas passar
à guisa de nada entrante.
Onde doravante ir não devora
e o que era alegre lá, se alcançaria.
Que outra vida seria
se se estancasse, imprescindível, a dor.
|